ESCUTA-ME
Escuta-me, não te demoro.
Queria dizer-te que passei o dia de hoje.
Que acordei triste,
Mas que as crianças me alegraram com as perguntas da manhã.
Queria dizer-te que vi o rio, olhei-o horas a fio.
Que quase te vi na outra margem e que desviei o olhar a tempo.
Queria dizer-te que dei a minha cara ao sol,
Que lhe dei as minhas pálpebras
E que ele me devolveu tudo isso e ainda luz.
E falei também com o pintor,
Prometeu voltar lá a casa para terminar o trabalho.
Queria dizer-te que descarreguei a energia acumulada,
Que bebi um sumo de abacaxi fresquinho,
Que caiu a noite
E que nem me apercebi.
Já te disse que paguei as contas?
Sim, posso voltar a gastar no mês que vem.
Sabes, queria dizer-te que cheirei um perfume novo,
Que pensei que, um dia, te dou um sem retorno.
Queria dizer-te que nem por um segundo deixei de pensar em ti
E que te escrevo porque não posso falar-te.
Escuta-me, queria partilhar o dia contigo.
Contar-te tudo, tudinho,
Sem me esquecer de nada.
Mas, tu não queres saber
E eu não consigo ficar com isto por te dizer.
“in Assim, Como as Cerejas”