Babel

Babel

Naquele dia queria saber mais, queria conhecer o que ficava fora daquelas quatro paredes.

Naquela manhã sentei-me no meu tapete voador encarnado, de joelhos contra o peito e cabeça baixa, fechei os olhos e desejei voar pelo mundo.

– “Leva-me a conhecer o mundo”, ordenei.
Senti o vento na cara e quando a velocidade a que íamos fazia com que escorressem lágrimas dos meus olhos, sustive-me, exclamei: “Deixa-me pairar sobre o mundo!!!”.
Sobre o ponto onde Greenwich toca o Equador, pairei por tempo indeterminável.
Os olhos fixaram-se na imensidão dos desertos e no indecifrável aglomerado de pessoas. O azul do mar prendeu-me o olhar, mas foi das pessoas que quis ficar mais perto. Eram vozes que se atropelavam, eram línguas que se sobrepunham. Ninguém se ouvia e ninguém fingia dever o ouvido a alguém.

Eram letras soltas que não se conjugavam, não formavam palavras. Eram línguas e linguagens que não comunicavam. Era Babel personificada.
Mundos diferentes a gritar desencontros, eram todos longe de cada um. Eram desesperos que escorriam de olhos escuros e túneis sem fundo que saíam de gargantas descontroladas.
O ruído atirou-me ao tapete e foi a rendição que me ordenou o regresso a casa, fechou-me entre quatro paredes, surda de cansaço por não perceber nada.

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