O SILÊNCIO
A minha filha Luisa, de 5 anos, tem agora o hábito de me pedir que lhe ponha “os 5 minutos de silêncio” antes de dormir. O que são os “5 minutos de silêncio”? Ponho-lhe o cronómetro do telemóvel a contar 5 minutos e ela, já deitada e de luz apagada, fica em silêncio. Antes de dormir, faz 5 minutos de silêncio. Está ali, ainda perfeitamente acordada, no breu do seu quarto, em silêncio. Nem sei por onde começar, mas talvez pelo espanto com que uma criança, naturalmente, sem que ninguém lhe tenha pedido ou ensinado, sente a necessidade e os benefícios do silêncio. E a curiosidade pelo que aquela mente, tão pequenina ainda, estará a trabalhar naqueles 5 minutos. A processar. A digerir. A meditar. Ou simplesmente a vaguear. Todos precisamos de silêncio. Eu sinto tanta falta dele. Tanta. Sou a mais absoluta fã do silêncio. Daquele em que consigo ouvir os meus pensamentos. Procuro-o muitas vezes. Procuro-o demasiadas vezes nos sítios errados, de forma errada. Procuro-o sempre que grito para os meus filhos fazerem pouco barulho, para porem a televisão mais baixo, sempre que os mando despachar para a escola com o anseio do momento em que os entrego. Procuro-o sempre que crio a expectativa de ter um fim-de-semana descansado ou imagino uma manhã de sábado num café a ler o jornal. Procuro-o demasiado longe. Ele está muito mais perto que isso.
Para a minha filha Luisa está no adormecer de cada dia. Naquela bolinha que fica a girar no ecrã do computador depois de clicarmos no “encerrar” até apagar por completo. E no silêncio dela, fui beber-lhe Sabedoria.