Língua de Barro

Mulher escrevendo com uma máquina de escrita

“Eu não opero com língua de barro, eu opero com língua de barro”.

Ondjaki

 

Digo muitas vezes que o que mais gosto na escrita não é do momento em que despejo as palavras, a pontuação, formo as frases em jeito de “vómito” de uma ideia, dum pensamento ou duma reflexão sobre um papel em branco. O que mais gosto na escrita é de trabalhar as palavras escritas, é deliciar-me com o seu som, com a sua métrica, é esculpi-las a elas e às frases que formam, é de trabalhar a simplicidade com que lhes damos protagonismo.

Quando li esta frase do Ondjaki não consegui deixar de pensar: olha outro… também ele esculpe, que nem oleiro, este barro de letras. Também ele passa horas de mãos postas na macieza bruta da argila, também ele se deixa estar no pedalar centenário da roda em que a mão vai moldando sílabas, sons e acentos.

E nisto nos demoramos, porque cada peça que nos sai das mãos toma a mais perfeita forma da nossa linguagem e é certeza de que o nosso ofício se detém no depurar desta “língua de barro”.

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